Introdução

A procura por alimentos do meio rural que não utilizem produtos químicos no seu processo de produção, frutas e hortaliças orgânicas, tem crescido exponencialmente no decorrer dos anos acarretando em uma valorização dos mesmos. Esse fato tem mudado o modo como o pequeno e médio proprietário rural pensam e interagem com o meio ao seu redor e, por conseguinte o número de produtores que buscam e adotam um viés mais natural também é maior. Nesse contexto, a produção de biofertilizante e adubos naturais surgem como um alento para aqueles que vão de encontro aos métodos das grandes produções.

Quando se trata da utilização de adubo orgânico ou na sua forma de biofertilizante em pequenas propriedades rurais é imprescindível ressaltar sua praticidade atrelada ao fator econômico, já que o biofertilizante junto com o adubo orgânico curtido são facilmente produzidos e dispensam a necessidade de adubos químicos. Também há a questão dos benefícios a longo prazo em relação ao solo, haja vista que a relação “aplicação versus tempo” reverbera em um maior potencial de mineralização do solo por conta da maior presença de nitrogênio acumulado durante os anos, assim como sua disponibilidade para as plantas.

Não obstante mesmo com uma gama de benefícios e sua facilidade na produção e aplicação, os fertilizantes naturais não são empregados majoritariamente no meio rural. Isso deve-se em grande parte ao pouco conhecimento dos proprietários, que acabam despejando os resíduos de forma irregular contaminando solos e corpos hídricos próximos. Desse modo há a necessidade de se aplicar uma solução com base na destinação final ambientalmente adequada para estes resíduos. Portanto a aplicação de biodigestores de baixo custo mostra-se como sendo a solução que melhor se encaixa para tratamento e destinação final da biomassa produzida.

Os biodigestores apresentam-se como sendo uma fonte de geração de subprodutos e tratamento de resíduos, que além de beneficiarem o meio ambiente por conta da redução da contaminação dos mesmos por lançamento de biomassa orgânica, que podem afetar negativamente tanto o solo como os corpos hídricos e o ar, beneficia também no âmbito socioeconômico, uma vez que a venda dos biofertilizantes produzidos têm um bom valor econômico e apresenta bastante demanda no mercado.

Um desdobramento relevante dessa abordagem é a utilização de biorreatores de baixo custo para a produção de inoculantes destinados à agricultura familiar. Esses equipamentos permitem que pequenos produtores fabriquem, em suas próprias propriedades, microrganismos benéficos capazes de melhorar a fertilidade do solo, potencializar a absorção de nutrientes e reduzir a dependência de insumos químicos. Além de serem uma alternativa economicamente viável, os inoculantes produzidos em biorreatores populares contribuem para práticas agrícolas mais sustentáveis, fortalecendo a autonomia do agricultor e promovendo ganhos ambientais, produtivos e sociais no meio rural.

Dessa forma, este projeto tem como objetivo desenvolver e avaliar a aplicação de um biorreator de baixo custo para a produção de inoculantes na agricultura familiar, buscando oferecer uma solução acessível, sustentável e de impacto direto na melhoria da produtividade e na valorização da agricultura de base familiar.

Objetivo do projeto

O objetivo deste projeto é desenvolver um biorreator de baixo custo, de concepção simples e aplicável diretamente na rotina da propriedade rural, para a produção de inoculantes destinados à agricultura familiar. Trata-se de uma tecnologia acessível que busca fortalecer a autonomia do produtor, reduzir custos com insumos externos e, ao mesmo tempo, promover o aumento da fertilidade e da vida no solo, contribuindo para sistemas agrícolas mais sustentáveis.

O que é um inoculante? Para que serve?

Inoculante é um produto feito com microrganismo benéficos, como bactérias, que ajudam as plantas a crescer com mais saúde. Ele é aplicado nas sementes, e pode substituir parte dos adubos químicos que contém nitrogênio, pois muitas dessas bactérias fixam o nitrogênio do ar. O uso de inoculantes melhora a fertilidade do solo, aumenta a produção e fortalece as culturas, principalmente as leguminosas, como o feijão e o amendoim.

Por que produzir o inoculante na propriedade?

Para muitas culturas produzidas por agricultores familiares, ainda não existem inoculantes disponíveis no mercado, principalmente para aquelas de menor expressão econômica. Por isso, é importante buscar alternativas que fortaleçam a produção dessas culturas e ampliem o acesso a essa tecnologia.

Nesse sentido, produzir o inoculante na própria propriedade é uma solução inteligente. Assim, garante o acesso ao inoculante mesmo quando ele não está disponível para compra - podendo produzi-lo na hora que quiser, com mais autonomia, economia e controle sobre a qualidade.

O que é o biorreator?

O biorreator é um recipiente de vidro adaptado com mangueiras e filtros, que funciona como uma pequena fábrica caseira para multiplicar bactérias e produzir inoculante líquido. Esse sistema é feito com materiais simples, de baixo custo e fáceis de encontrar, inclusive pela internet. Com um investimento abaixo de R$1.000,00, é possível montar todo o equipamento e garantir uma produção contínua de inoculantes na sua própria propriedade.

Benefícios para a empresa

1. Redução de custos com compra de insumos químicos (fertilizantes e inoculantes comerciais).
2. Produção coletiva de inoculantes, barateando ainda mais por meio da economia de escala.
3. Geração de renda extra caso a associação comercialize o excedente de inoculantes ou biofertilizantes.
4. Fortalecimento da autonomia dos agricultores, diminuindo a dependência de fornecedores externos.
5. Capacitação técnica dos membros da associação, estimulando aprendizado coletivo.
6. Maior integração e cooperação entre os associados, já que o uso e a manutenção do biorreator podem ser feitos em regime de mutirão.
7. Valorização da agricultura familiar, mostrando inovação e sustentabilidade como diferencial competitivo.
8. Melhoria da fertilidade e saúde do solo, graças à presença de microrganismos benéficos.
9. Redução do uso de químicos sintéticos, diminuindo contaminação de solo e água.
10. Aproveitamento de resíduos orgânicos locais, que podem ser utilizados no processo.
11. Acesso facilitado a programas de apoio e financiamento, já que projetos sustentáveis e coletivos têm maior chance de receber recursos públicos e privados.
12. Maior visibilidade institucional, fortalecendo a imagem da associação como referência em inovação sustentável.
13. Potencial de replicação da tecnologia para outras comunidades rurais.

Referências:

Oliveira, A., Costa, A., Mota, T., Ferreira, W. S. (2019). Biodigestor caseiro aplicado a produção de biofertilizante a partir de biomassa bovina. Scientia Amazonia, 8(1), E14-E19.

Oliveira-Longatti, S. M.; Pereira, M. de S.; Rufini, M.; de Carvalho, T. S.; Guimarães, A. A.; Moreira, F. M. de Souza. (2025). Cartilha Biorreator popular na propriedade: inoculantes para a agricultura familiar (2025). INCT Biodiversidade do Solo, Universidade Federal de Lavras (UFLA).